20 ANOS NOS BRAÇOS DO PAI...SAUDADES DO POETA E AMIGO...JANIRES!
Dia 11 de Janeiro!...
Exatamente há 20 anos,...Janires deixava esta terra, pra morar nas mansões celestiais
Detalhes!...
Certa vez, conversando com Janires, abri o coração falando das minhas dificuldades pra entender a cabeça do Povo de Deus,visto que eu havia sido gerado dentro de uma família Assembleiana,afinal,... Sou filho de Pastor.E naquele momento, meio emocionado pelo tom da nossa conversa,confessei olhos-nos-olhos, o quanto a sua vida e atitudes como servo de Deus, era referência pra minha vida.
A resposta foi:
“Moisés,não olhe pra mim como referência...Olhe somente pra Jesus, afinal,... foi Ele quem morreu por você”
Um pouco antes do seu falecimento,numa outra conversa dentro de uma sauna,falamos sobre os perigos da vida,das viagens que fazíamos e sobre o nosso futuro como grupo musical,perguntei a Ele, como encarava a morte:
A resposta foi:
“Moisés, sinceramente?... Acho que vou morrer na estrada...Pois viajo muito, e tem um negócio cara,...é só entrar no ônibus e sentar, que logo pego no sono e começo a dormir. E como não temos segurança nas estradas, o perigo é constante,...Acho eu que será numa circunstância assim”
O primeiro acampamento com a Banda MPC
Logo depois destes momentos,viajamos para um acampamento na Cidade de Passos de Minas, e assim mais uma vez, com muita alegria e entusiasmo,começava a compor as canções do nosso primeiro LP, que leva o título de “Espelho nos Olhos”.
Ensaiávamos, três a quatro vezes por semana. O crescimento musical era espantoso!
Ligávamos constantemente uns para os outros, para discutir arranjos e também para mostrar os primeiros esboços de letras que a gente escrevia.
A primeira viagem da Banda, e a mudança de nome...
Em abril de 1987,fomos convidados para tocar no Rio de Janeiro.Nossa primeira viagem.
Enquanto Eu e o Janires tomávamos um café com misto-quente,sentados no restaurante da rodoviária de Belo Horizonte,olhamos para um rotulo de uma bebida européia...e o nome impresso era: BANDA AZUL!!!.
Ele olhou para aquilo muito espantado e com os olhos arregalados, pegou a minha mão, apertou forte e disse quase gritando:
“Pô, Cara!...Achei o nome que eu estava procurando!...É isto! Banda Azul...isto é a cara do som da gente”..
Rimos muito durante a viagem, pois o nome soava estranho.Até então, éramos chamados de Banda MPC.
Todas às vezes que apresentávamos, tínhamos de explicar o significado da sigla!... Era brabo. E não fazia sentido uma Banda daquele formato musical, ter o nome de uma instituição!...(se ao menos fosse,Musica Popular Cristã),ainda assim soaria estranho.
Quando chegamos ao Rio, fomos diretamente para o ginásio do OLARIA, na baixada fluminense.
Juntos com o Grupo Sinal de Alerta, Paulo César Graça e Paz e a recém-chegada ao meio,Cristina Mel,...fizemos nossa primeira apresentação com o nome “BANDA AZUL”.
Foi uma noite memorável!...Inesquecível!!!
O promotor do evento perguntou ao Janires,...
Porque BANDA AZUL ?
E Ele respondeu :
“É entre nós não existe racismo..É azul claro pra um lado...e Azul escuro pra outro”...
Olhava para o Du Batera e pro Guilherme...E ria a vontade!...
Assim começava a trajetória daquela que seria a última Banda do Amigo Poeta!...
Escrito por:Moisés Di Souza, Baixista e vocalista da Banda Azul
POETA,... QUE SAUDADE !
“Rolou o mundo.Percorreu vales de fundos sulcos.
Andou errante,sem grilhões.
Morreu livre.
Este foi Janires”.
Estávamos apreensivos!...
Era 11 de janeiro de 1988.
Estranhávamos a ausência do nosso irmão Janires, no primeiro “Clubão” do novo ano.
Os jovens já estavam todos lá.Superlotavam o local , quase mil pessoas.A Banda Azul aposta para dar início ao louvor.Havíamos orado momentos antes,inclusive pelo próprio Janires e pela reunião que em instantes iniciar-se-ia.
O relógio marcava 19:30 horas.Tudo estava pronto.A equipe da MPC atenta.O som ajustado, equalizado.Checamos cada detalhe.A “Tchurma” toda lá.
Só não sabíamos que o Janires também já estava lá...com o Pai.
Como o fato aconteceu!...
Aconteceu na madrugada deste dia, uma segunda feira cinzenta,em um trágico acidente com um ônibus da Útil fazendo o percurso,Rio-Belo Horizonte, que o nosso amado aportava o céu, com o seu imenso “coração veleiro”.
O filho mais velho de Dona Luzia,dos dois meninos que tivera,nascido em 22 de maio de 1953 na cidade de Vitória, no Espírito Santo,alçava vôo “mesmo sem ser de asa-delta”.Havia chegado a hora de “ir embora , viajar”.
Por umas destas ironias que não se busca explicar,posto não ter residido por muito tempo em seu Estado natal, o Espírito Santo,bem como vitórias e derrotas, sempre estiveram presentes na sua vida atribulada e aventurada do nosso poeta.Vez que experimentara bem perto o poder de Deus em sua vida de andanças.Era um peregrino.Não era mesmo de ficar.
Num bate-papo informal com a irmã Luzia recordávamos as peripécias e lutas do
“velho Jajá”.
Detalhes da Infância e Adolescência!...
Logo aos 7 anos de idade questionava a vida e a sua origem, visto não ter conhecido seu verdadeiro pai.Não aceitando ou entendendo as explicações de sua jovem mãe, seus dissabores o levariam a uma estrada tortuosa e obscura, quando aos 12 anos, passou a “mexer” com drogas.Foi esta a sua alucinante trajetória até aos 19 anos.
A Prisão!...
Veio então o cárcere.Ficou preso 2 longos meses.A mãe desesperada recebendo o auxilio de outra senhora,lutou muito para tira-lo do presídio e transferi-lo para o “Desafio Jovem” de Brasília, segundo orientação daquela mulher.
Com o apoio do Prof.Galdino, presidente do mesmo,ambos (mãe e filho) tomaram contato pela primeira vez com o único e suficiente caminho: JESUS.
Janires passou a trilhar o caminho,permanecendo ali , no centro de recuperação,por nove meses.Ganha uma segunda mãe, a Tia Arlete,assim por ele mesmo considerada.Contou com o amparo especial do Prof. Galdino,a quem se referia em conversas comigo como o “Capitão Galdino” e de toda a equipe de obreiros do “Desafio Jovem” de 1973.
Pensando estar tudo terminado, fato esquecido,vai a julgamento.E, como fruto amargo,colhido como resultado de sua vida pregressa, é condenado a um ano de prisão e ao pagamento de 11salários mínimos.Contudo, por uma decisão de um tribunal superior ao dos Homens, o de Deus,em um episódio inusitado, que certo dia me confidenciara, “teve o nome trocado com o de outro condenado”.Assim ocorrendo sua pena se reverte a ser cumprida no já conhecido “Desafio Jovem”, retornando pois.
Ali, ligado à música (aliás, como sempre o fora), começa a trabalhar nos louvores, compondo suas primeiras canções evangélicas, bem ao seu peculiar estilo jovem.Transmudava-se em nova criatura.
Ficou lá no “Desafio” chegando enfim, o dia de sair.
A saída da Prisão e as armadilhas!...
Ciladas o esperavam...
Seus “ditos” amigos de “Underground” voltam a procura-lo.
Ele, presa fácil, novo na idade e na fé, não suporta a “Barra”...e volta as drogas.
Passam-se seis meses...
Mas o pai eterno, em sua infinita graça e misericórdia, não desistira dele.
Por intermédio da Tia Arlete, assenta no coração dela , que esta deveria leva-lo para São Paulo.Lá , na igreja liderada pelo Tio Cássio, pode segurar firme nas mãos de Jesus, sendo acolhido como era.
Nunca mais o deixou!
Como surgiu o Ministério Rebanhão!...
Em 1975, em São Paulo, Janires criou o “Rebanhão”. Sempre pensando em alcançar a muitos. Pouco tempo depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, continuou com a idéia e visão do Ministério do grupo “Rebanhão”.E, com isso, dava início a um capitulo a parte, inédito, no que tange a musica jovem evangélica Brasileira.
Gravou três LPs e um compacto com o “Rebanhão”.Comemorou dez anos de conversão gravando o primeiro LP ao vivo da musica evangélica no Brasil “Janires e amigos”.E, cá pra nós, amigos sempre foi algo que ele soube ter e fazer, por isso gostava de homenageá-los, registrando em suas canções e gravações.
A saída do Rebanhão e a chegada em BH... expectativas de um novo tempo!
Janires, contudo, não era de “esquentar banco”; e não se acomodava na inércia de vitórias já passadas, buscava sempre o novo,a criação.Dizia ele: “Quem vive de passado é professor de história ou museu”.
E nesta época constante do renovar-se, e graças a Deus, renovando a muitos “apiô do trem em Belo Horizonte, no arraia da MPC”, logo após fazer a sua despedida do “Rebanhão”.Chegou aqui com um violão e seu imenso “Coração poeta”.
Com a Mocidade Para Cristo,cumpria cabalmente seu Ministério, espargindo sua influência e liderança em cada filial que visitava ou convite que aceitava por estes “Brasis” que percorrera, num trabalho incansável, humilde e verdadeiramente itinerante.
Em Belo Horizonte deu início a um programa de rádio de 60 minutos de duração,todo sábado.Programa jovem, evangelistico e musical, “Ponto de Encontro”.
Gravou e lançou um LP com o mesmo nome deste programa, além de dois compactos com o “Quarteto Vida”.(MPC.BH).
Cantava, pregava, conduzia o louvor e a adoração a juventude em praticamente todas as reuniões e eventos promovidos pela MPC, nas temporadas de acampamentos e especialmente no “Clubão”, de toda segunda feira, invariavelmente.
Centenas e centenas de jovens o amavam; e eu podia perceber que os olhos daquela “moçada” brilhavam ao ouvi-lo cantar e louvar a Jesus Cristo em letras e ritmos tão contextualizados quanto poéticos.
Liderando a Banda Azul!...
Em novembro de 1986, antes de uma temporada nos E.U.A, Janires já lançava a semente daquele que viria a ser seu ultimo grupo musical: A Banda Azul.
Em companhia de Moisés Di Souza (Baixo),Eduardo Costa (Dubatera), Eduardo Santos (Duguita) e Guilherme Praxedes (teclados), surge a primeira musica composta no acampamento de final de ano da equipe da MPC... “Meninos da Rua”.Com o “Som do Céu”, evento de louvor e pregação realizado em abril de 87 na praça do Papa, comportando um público estimado em 15 mil jovens, o trabalho da banda ganhando cada vez mais solidez e explode com “Canção das Estrelas”.O entrosamento era notório e melhorava a cada momento, passando a ser uma atração extra a cada reunião.
Convites começavam a ocupar a agenda, quase nunca bem utilizada, do nosso “Rev. Jajá”.
A primeira Gravação e a mudança do nome!...
Nasce então a idéia da primeira gravação, e assim a antiga Banda MPC, muda de nome: Banda Azul.
Explica ele com seu jeito singular de encarar a vida, que a razão deste nome para a Banda,
“Era porque todos os seus componentes, tinham os olhos azuis” e invariavelmente, um sorriso desabrochava em seguida.
Trabalhou arduamente,ao regressar de uma segunda viagem aos E.U.A, no novo disco que abriria caminho para a Banda Azul, nunca o vimos tão feliz, alegre e gordo.
O carinho na preparação e o cuidado na elaboração do novo LP já se faziam antever a bela qualidade do esperado lançamento.
Gravara e entrara nos estúdios de gravação pela ultima vez.Não chegou a ver o LP pronto. Com a capa e tudo pra ser lançado.Mas, deixava nele o essencial: seu talento, sua voz,suas músicas, suas inimitáveis letras, sua poesia.
“Espelhos Nos Olhos”, já era histórico antes mesmo de ser lançado.
Janires Magalhães Manso, um incansável servo de Deus.Tinha muito planos e projetos para a Banda Azul, que tenho certeza,saberá cumpri-los como herança de seu “Band Líder” e irmão mais velho.
Reconhecimento!...
Seu talento nato,dom de Deus,num misto de músico, poeta, repentista e pensador moderno,ainda que registrado em discos e fitas,por certo deixou aguda saudade e imensa lacuna.
Poucos, muito poucos mesmo, souberam como ele empunhar a bandeira da “avant-garde” sendo ferido, muitas vezes, e sem ferir.Pelo contrário.
A Despedida no Funeral em Brasília!...
As palavras do irmão Alex Dias Ribeiro, bem como o testemunho dos irmãos que estiveram presentes ao seu sepultamento (Marcelo Gualberto MPC,Carlinhos Felix do Rebanhão, Pr. Ricardo Barbosa de Brasília, Prof. Galdino, D. Luzia sua mãe, ...e tantos outros) e toda a Banda Azul e obviamente (que lá tocou), corroboram esta realidade: “Seu funeral na Igreja Nova Vida, em Brasília, foi uma das coisas mais lindas, emocionantes e alegres que já vi”.
Ao completar 32 anos, irmã Luzia o procurou perguntando-lhe se gostaria de conhecer o pai, agora que ela o encontrara; respondeu ele: “Minha família é aquela que nasce a cada manhã”.
Agora esta família sente saudade do irmão, amigo e Artista.
Mas ele já esta lá!...Junto com Sergio Pimenta, o Jayrinho e os outros tantos amados num “Clubão” que não tem mais fim.
OBS: Matéria extraída da Revista Kerigma Ano II Nº 9 do Ano de 1988, e compilada por Moisés Di Souza, Baixista,compositor e vocalista da Banda Azul
Autor: Francisco Santos (Xyco), que na época era Missionário da MPC/BH, amigo pessoal de Janires e da Banda Azul.